ALIENPORÚ


      Boa tarde Extraterrestre, hoje trago para vocês duas obras de releitura que eu fiz em Cerâmica. Uma foi uma placa e a outra uma peça tridimensional, ambas inspiradas na obra o “Abaporu” de Titia Tarsila do Amaral.



Abaporú por Tarsila do Amaral
     Essa obra é uma das mais valiosas da arte brasileira e talvez do mundo, traz consigo uma história de peso e para mim uma identidade muito brasileira. Faz parte do movimento antropofágico e possui em sua pintura uma mensagem subliminar, relacionada ao trabalho braçal.

     Os colonizadores talvez vendo os povos indígenas com natureza bestial ou inferior e adicionando a eles ingenuidade e selvageria, trataram de domina-los e muitas vezes destruí-los sem culpa. Sabe-se que a ocupação territorial tinha o objetivo de sugar todas as fontes de recursos e o motivo maior da colonização ocorrer é só para demarcar e tomar posse do território, possuindo assim maior defesa territorial contra piratas ou outros colonizadores.

     Porém era preciso mais do que saquear, era preciso mão de obra, e nada mais útil para servir de mão de obra do que, pobres seres selvagens, que segundo eles não possuíam sequer intelectualidade ou civilidade.

     Em O Abaporu, podemos perceber uma figura antropomórfica de cabeça inferior, em comparação à mãos e pés grandes, Tarsila faz uma crítica implícita ao trabalho braçal indígena que os portugueses fizeram uso na era do descobrimento, ilustrando a ideia de mentalidade baixa dos indígenas pela visão dos europeus com uma cabeça pequena, e mãos e pés grandes, remetendo ao trabalho braçal usufruído pelos portugueses. 

     Para mim essa associação dos pés e mãos grandes pode se dar não apenas na era colonial, mas também aos operários e trabalhadores da crise de 29, e a todas as situações na história em que pessoas se aproveitaram do trabalho braçal de outras que foram consideradas  de mentalidade inferior.

     Na releitura em forma de placa, quis trazer elementos da linguagem visual como a forma, a textura e a profundidade dos contornos. 




AlienPorú em placa por Lalo


      Já na releitura em tridimensional, quis trazer a sensação semelhante aos colonos que se depararam com um “outro mundo”, colocando uma cabeça de alienígena no abaporu...

(até por que amo alienígenas)
(Sou Um)

     A cabeça que antes permanecia em estado melancólico, agora possui olhos grandes de alienígena e se torna, para mim, mais observadora do que melancólica, inseri a característica extraterrestre por que o alienígena é um dos elementos que sempre deixo presente na maioria das minhas produções, por me agradar bastante da figura mística e misteriosa que é o Alienígena e as alegorias espaciais. 


AlienPorú por Lalo



     Ele representa, o ser estranho ou o outro mundo. Além disso, removi a mão que acompanha os pés e mãos imensos, deixando apenas o pé grande, no lugar da mão inseri uma abertura em formato circular, como um vazio. O espaço vazio simboliza uma grande boca prestes a digerir tudo ao seu redor, semelhante ao movimento antropofágico da qual o Abaporú faz parte e também semelhante aos infinitos buracos negros que surgem no universo e que sugam tudo ao redor.
     Em outra leitura própria, da minha releitura, trato o buraco vazio e a ausência do braço, como o vazio e a insignificância que um ser sem intelecto ou força braçal pode significar para a sociedade.

     Batizei minha releitura de AlienPorú, substituindo Aba (do tupi = homem) por Alien, e concluindo com pora (do tupi = gente) e ú (do tupi = comer) substituindo o termo original que significa "homem que come gente" por "Alienígena que come gente".

(ui ele vai te comer!)
(rsrs)
(ou não...)
(ele só come gente)


Boa tarde rsrs
Lalo

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